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A segunda morte é a que dói mais

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Nosso motivo de existência é tocar pessoas.
Não é amar, não é sofrer, não é outra coisa senão tocar uns aos outros.

Parece poético, mas este ‘toque’ nem sempre é aquele movimento que fazemos no romantismo. Algumas vezes é um beijo, em outras é um tapa na cara, e por vezes não há contato físico.

Ao envelhecermos, pessoas que antes eram a razão do nosso acordar passam a não existir, e isso é normal. É como dizem: são poucas as pessoas que continuam ao nosso lado durante todo o percurso. E não é por mal, algumas vezes os caminhos realmente nos levam para lugares diferentes.

A ‘morte’ nunca foi um problema para mim, eu mesmo já morri algumas vezes nessa vida. Ela para mim nada mais é do que um novo recomeço, do zero. Quando me vi em depressão em 2007, sem emprego ou amigos, sem expectativa de vida, eu morri pela primeira vez. Mudei de cidade, de atitude, de estilo de vida. Eu mudei por completo, e deixei de ser quem eu era até então.

A diferença entre a ‘morte física’ e a emocional é que a a primeira é incontrolável, e nos leva a um novo caminho desconhecido em outro mundo. A ‘morte emocional’ nos faz mudar o caminho, mas o mundo ainda é o mesmo de quando perdemos o controle da nossa vida anterior: você, de certa forma, ainda é acessível.

Ontem, pela primeira vez, uma pessoa morreu pela segunda vez na minha vida. Ele foi um dos meus melhores amigos, mas havia ficado para trás numa vida passada minha, onde eu era irresponsável, egocêntrico e perdido. Eu morri ao mesmo tempo em que fui assassinado por ele, oito anos atrás. Nossas vidas nunca mais se cruzaram, e talvez nunca mais cruzariam.

Agora ele se foi de verdade. Talvez ele ainda sentisse aquele gosto amargo, porque não conheceu a doçura que hoje habita as palavras que saem da minha boca. Ou talvez nem se lembrasse do gosto que aquela amizade tinha. Não sei, e nunca mais saberei.

A segunda morte tem apenas um gosto salgado, úmido e frio.
Mas nunca é tarde demais para agradecer quem, de alguma forma, tocou a sua vida.

Obrigado, Renan.

Esse texto é uma última homenagem ao antigo amigo Renan Correa.
Vá com Deus, e viva uma nova vida cheia de alegrias com a sua mãe,
de quem eu sei que você sentia muita falta nesse mundo aqui.

 


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